quarta-feira, junho 06, 2007

O Q da questão

Escrever em português é muito difícil. Qualquer analfabeto sabe disso.
Com esse empecilho em mente é que desenvolvi uma teoria que revolucionaria a escrita canarinha (sim, porque os gajos e os africanos que se virem nas terras deles).

O mote do plano é descartar a letra Q do nosso abecedário.

– Que!?!?!?
Você se assombraria.
– É isso mesmo.
Asseguro eu.

Explano:

1) Com a exclusão do Q, esse som meio cuspido que ele impetra seria representado única e exclusivamente pelo C.

Vejamos um exemplo:
Aquela senhora inquieta acorda acabada.

Percebe o mesmo som sendo representado ora pelo Q (aquela, inquieta), ora pelo C (acorda, acabada)?

Essa incoerência seria eliminada e a frase viraria:
Acela senhora incieta acorda acabada.

Pode parecer estranho, mas testes nesse sentido já vêm sendo feitos há anos pela Academia Brasileira de Letras em parceria com a Interpol. Ou por que você acha que o numeral 14 pode ser escrito de duas formas?

2) Com o novo som do C, ele seria obrigado a passar o bastão do som assoprado, que às vezes pede, para o S.

Assim, a frase:
Acima do cais está um estranho percevejo.

Tornaria-se:
Asima do cais está um estranho persevejo.

Veja, novamente, que tentamos dar a cada letra um som específico, eliminando os inúmeros casos de crise de identidade pelos quais têm passado as nossas queridas consoantes.

Se você é um(a) bom(boa) observador(a), deve ter notado que a grafia da segunda frase está esquisita. Deve ter estranhado a falta dos pombinhos SS. O que nos leva para o próximo item...

3) O S então, agora com total domínio sobre o sonzinho de cobra sibilando, poderia desvencilhar-se do seu siamês, e viver solteiro daqui para frente.

A bela voz de Djavan cantaria:
Asim que o dia amanheseu...

4) Por conseguinte, o C teria que pôr o rabo entre as pernas e largar de vez o som do S. Seria o fim da cedilha.

Ainda com o cantor e compositor maceioense:
Pai e mãe, ouro de mina
Corasão, dese...

Ops!
Essa frase já pede a próxima alínea.

5) O S não pode enrolar, não! Agora que ele já tem um som para ele, vai ter que largar mão de sair zumbindo por aí. Esse som tem talhada a marca do Zorro nele. Inapagável:

...dezejo e sina

Essas mudanças valeriam para as consoantes em questão sempre, indistintas as suas posições na palavra:
Você traz as cebolas e põe atrás das mesas.

Tranformaria-se em:
Vosê trás as sebolas e põe atrás das mezas.


Simples, não?

De tal modo, eliminar-mos-ia toda aquela dor de cabeça: “Acessório é com cedilha? E assessoria?”, dentre outras, que bem conhecemos.
Exterminadas seriam também algumas aberrações, como as diversas formas de escrever “sesão” (no novo dialeto, claro): seção, sessão, cessão.


Outras letras sentiriam o impacto dessa importante modificação.
Mas iso é asunto para a prósima...


;)

Tchau!

11 comentários:

Anônimo disse...

Kakakaka.... me senti estudando a Lingua Portuguesa.... como nos velhos tempos....
Aih estaum um dos exemplos das dificuldades, desnecessarias, nossa lingua Portuguesa...
Beijosssssssssss

Anônimo disse...

Como sempre faço, acompanho seus pensamentos, blogs, fotologs...
Feitos para você e por você!
Sempre muitos bons, como sempre!
Admito que às vezes te acho uma pessoa de outro mundo, inteligência além do normal...

Agora, sobre esse post...

O que tenho para falar é diretooo!

O que é difícil é bem mais gostoso!!!
As pessoas gostam mais...
É o BRASIL!

Anônimo disse...

Sempre pensei nesse "Q da questão", mas não tão detalhadamente. Você, mais uma vez, foi genial!

Ei, e quanto às bizonhas letras K, Y e W? Não entendo suas existências! Peloamordedeus alguém me responda: quem som tem um "dábliu"? E um "ipisulon"??????

Beijo!

Anônimo disse...

Gui,
Muito legal o que você escreveu, e, como sempre, muito bem escrito... Mas fiquei com uma dúvida:
E quanto ao GU, o CH, o LH, o NH, o RR...?

Que tal escrever o seguinte (desculpe, me empolguei e tomei a liberdade...):

Gilierme, (Onde Gui vira Gi, e o Gi é substituído pelo sempre subestimado Ji e o LH vira LI porque assim podemos deixar o L e o H livres de terem que andar juntos, coitados...)

Vosê gostaria de vir tomar um xá em caza? (onde chá vira xá para que o C e o H possam ser libertos de seus laços fonéticos...)
Cuando xegar, bata na porta da vizínia ( onde o NH vira NI seguindo a regra do LH ... eu sei que parece que, se falado em voz alta, fica com um sotaque meio estranho, mas com o acréscimo de um acento agudo no I da sílaba zi acho que fica tudo bem... enfim, só estou seguindo o raciocínio...) e pésa (de pedir, não de pesar, porque pesar viraria pezar...) a xave da garajem para estasionar seu caro (xi, tá vendo, o RR fica estranho sem seu siamês...) lá. Ela sempre disponibiliza sua garajem para meus vizitantes.
Aguardo (aqui o GU continua junto porque o U e o A têm sons separados, né?) sua resposta. Um grande abraso da sua amiga Simoní. (Afinal, para quê usar o Y quando temos o Í ? )


Hahahaha que tal? Han? Han?
Me diverti muito agora!

Vê se manda notícias desse mundo tão distante.
Beijo!

Guilherme Parmegiani disse...

Dri: Na próxima aula é prova!

Pri: Obrigado pelos elogios! Realmente, a dificuldade pode ser um atrativo. Especialmente na nossa língua, inculta e bela, como diria Bilac.

Mestre: O W serve para os nomes dos nossos jogadores de futebol. Já KY, bom... Esse é um assunto meio delicado, que não condiz com o público que visita o blogue.

Simony: Obrigado pelo elogio e pelas contribuições. Contudo, você, boa leitora que é, deve ter reparado que meu texto encerra-se com um "ainda tem mais, pessoal". Tratarei sobre outros sons, letras e encontros consonantais posteriormente.

Anônimo disse...

Gilierme,

Heheh eu percebi sim, é que me empolguei e tentei adivinhar o resto...
Mas vc ainda pode postar e desbancar toda a minha teoria.

Ou, se quiser, apagar meu comentário. Ou ainda as duas coisas.

Um aperto de mão. Tchau.

Anônimo disse...

Português a la Parmegiani?
Genial!

Tipo, eu só fico me perguntando... que tipo de mente compulsiva e perturbada passa horas e horas pensando sobre isso, e pior, encontra um meio de resolver o problema da nossa língua??

Beleza, eu até admito que ela é meio complicada.... mas tenho certeza q vc só diz isso pq tá com saudades....
=p

Anônimo disse...

LOL, Guilherme mais uma vez arrasando no linguajar.
Valeu
Abraco
Renato

Anônimo disse...

Meu caro, genio!

Dessa vez hei de discordar de ti. Americanizado que está, quer fazer de nosso idioma o estado-unidense, com conjugações verbais como a que segue:

I put
You put
He / She / It Put
We Put
You Put
They Put

Standarizaríamos (sic, haja vista tua proposta de americanização) nossa linguagem, peculiar pelas regras, excessões às regras e complicações que fazem da nossa uma das mais complexas e belas línguas deste pequeno globo.

Contínuas um gênio, o qual jamais igualarei, porém, desta, discordo.

Beijo grande, espero teu telefonema...

Ricci

Unknown disse...

Concordo plenamente e digo mais, a maioria dos "erros" de portugues não passam de idiotices artificiais criados pela academia de letras que não procura facilitar a lingua e sim dificultá-la para fingirem que são intelectuais.
Eu mudaria muito mais do que o que você sugeriu.
Se fosse por mim, a inútil crase, que gera muitos livros, já teria saído da lingua há muito tempo. O hífen tb.
O povo tem que se ligar que a lingua é imposta a nós por uma minoria metida, e que na verdade, não existe o "certo" e sim o que é convencionado como certo, sendo assim as convencões tem que mudar pois nossa lingua é cheia de idiotices e tem muita coisa inútil no porgugues.
Eu tb me livraria do "o,a, os, as" como pronome e passaria a usar "você, ele e ela" como o povo ja fala. Fica muito mais fácil de entender o enunciado.
Estou com vc e não abro!
Vamos mudar a lingua.

Unknown disse...

Complexidade, quando algo pode ser simplificado, é sinal de pouca praticidade e além do mais, perdemos tempo que poderiamos usar para algo mais útil.
Vamos simplificar o portugues.
Eu diria que pelo menos 80% das dificuldades são idiotices de metidos a intelectuais que não tem o que fazer e querem fingir que são sábios dificultanto a lingua desnecessariamente.
O pt seria fácil se não fossem as convenções idiotas mal formuladas.