terça-feira, maio 29, 2007

As parentas se enganam

Hoje na cafeteria havia uma mulher com seu filho pequeno, cuja idade não sei precisar, mas é daquelas crianças que aindam não falam palavras inteiras e mal-caminham como se estivessem com as pernas engessadas. Sei lá, um ano e alguns meses, arriscaria.

O menino certa hora avistou-me e passou a olhar-me longamente, pelos próximos 2 minutos, acredito.
E eu retribuí o olhar durante todo o tempo, admirando-o de volta.

Daqueles olhares que prendem, sabe?
Um olhar gostoso e penetrante, que me fez, a certa altura, parar de me perguntar "o que será que ele está pensando?" e passar a, simplesmente, curtir o momento.
Passei também da fase de "quero devolver esse sentimento bom a ele, fazê-lo sentir o mesmo."
Nenhum de nós fitava o outro. Nenhum de nós observava o outro. Nós estabelecemos algo como um canal de comunicação, num espaço alheio ao resto do mundo, como se não precisássemos de palavras para nos entender. Não era inglês, não era português, não eram sílabas, sons, sinais. A ligação dava-se em outro plano, senti.

E abro um breve parênteses: quem me conhece sabe que eu não sou afeito às explicações sobrenaturais, esotéricas, espirituais ou embasadas em qualquer outro tipo de subjetividade. Mas toda exceção tem a sua regra, e eu não fujo a nenhuma das duas.
Fecha breve parênteses.

Enquanto nos comunicávamos, o bebê e eu, a mãe tenta chamar a atenção do filho e lhe pergunta: "Kevin, o que você está olhando? Hein, filho? Tá olhando o cabelão dele, é? É a barba?"

Eu não sei muito bem porque, mas eu tive, nessa hora, dó daquela mãe. "Coitada...", cheguei a pensar.
Não tanto por ela, e talvez nem mesmo pela situação em si, mas porque ali, de uma certa maneira, ela representou um desconhecimento, um descaso, uma ignorância (ignorante = que ignora, que não tem ilustração) que nós temos com muitas pessoas, em muitas situações na vida. Que ficou patente para mim, naquele momento, pois tratava-se de uma mulher e de seu próprio filho.

Uma criança naquela idade não faz esse tipo de distinção física. Ele não sabe o que quer dizer ter um cabelo comprido. Não vê a minha barba como sinal de qualquer coisa. Não percebe que sou latino pelos meus traços. Não me analisa pelas roupas, ou pela cor da pele.

Será que a mãe não sabe disso?
Será que ela chega a esse nível de desentendimento da cabeça do rebento?
Será que ela acha mesmo que alguma coisa em mim estava, objetivamente, chamando a atenção do filho?
Algo que não fosse o olhar?

Olhar onde, aliás, àquela altura, enquanto a mãe blablablava ao fundo, eu conversava com o Kevin.
Dizia: "tisc, tisc, tisc..."
E ele lamentava: "coitada..."

Voltei

Estou de volta, por tempo indeterminado.
Em breve maiores informações.

Por ora, forte abraço!