Sobre aquele tópico de que eu tanto gosto, o anti-americanismo.
Diz Nassim Nicholas Taleb, matemático e "aspirante a filósofo" (segundo o próprio) libanês, em seu mais recente livro, "The Black Swan – The Impact of the Highly Improbable":
"Whenever you hear a snotty (and frustrated) European middlebrown presenting his stereotypes about Americans, he will often describe them as "uncultured," "unintellectual," and "poor in math" because, unlike his peers, Americans are not into equation drills and the constructions middlebrowns call "high culture" – like knowledge of Goethe's inspirational (and central) trip to Italy, or familiarity with the Delft school of painting. Yet, the person making these statements is likely to be addicted to his iPod, wear blue jeans, and use Microsoft Word to jot down his "cultural" statements on his PC, with some Google searches here and there interrupting his composition. Well, it so happens that America is currently far, far more creative than these nations of museumgoers and equation solvers. It is also far more tolerant of bottom-up tinkering and undirectd trial and error. And globalization has allowed the United States to specialize in the crative aspect of things, the production of concepts and ideas, that is, the scalable part of the products, and, increasingly, by exporting jobs, separate the less scalable components and assign them to those happy to be paid by the hour."
Taí, perfeito. Enquanto em algumas culturas se super-valorizou o saber "teórico", digamos, os americanos "burros" construíram a maior potência do mundo através de tentativa e erro, de mão na massa.
E tem gente que acha que eles têm que saber a capital do Brasil...
Ah sim, e eu já afirmei e reitero: eu não sou pró-americano ou coisa que o valha. Somente sou pró-bom-senso. E anti-dor-de-cotovelo.
PS.: Esse post vai especialmente para o Arthur que sentiu minha falta. :)
Voltarei com mais afinco, Mestre!
Mas não prometo...
quinta-feira, agosto 16, 2007
terça-feira, junho 12, 2007
A Hora da Verdade
Eu passei a vida inteira tirando sarro daquele primo que chegou lá, ou do vizinho mais velho, ou dos colegas "menos adiantados" na faculdade.
O cara faz 24 anos vira bicha, viado, frutinha, florzinha, Clodovil, Lassie, são-paulino (aí, não!!!)...
"Entrou na idade da loba". Ou "é hora de decisão, hein?" quando a intimidade é menor.
Um exemplo óbvio de toda a irreverência e alegria deste povo sofrido, mas feliz e batalhador, entre outros lugares-comuns que não me ocorrem agora.
Claro, você passa a vida ciente de que sua hora vai chegar. Entra nos 20 e já pensa "nossa, imagina quando..."
21... 22... E o relógio correndo.
Completa 23 e já sabe: um ano de sossego; depois, inescapável.
Daí você vai morar nos Estados Unidos.
E é "happy birthday" pra cá, "happy birthday" pra lá, até que alguém pergunta "so, what's the lucky number?" e você, amuado, "24" (numeral em inglês, claro).
E a pessoa: "ah, legal!"
E você: "ãn???"
"Legal???"
É, amigo(a)... É com certa timidez no digitar que confesso-me a você: é muito chato fazer 24 anos nos EUA.
O cara faz 24 anos vira bicha, viado, frutinha, florzinha, Clodovil, Lassie, são-paulino (aí, não!!!)...
"Entrou na idade da loba". Ou "é hora de decisão, hein?" quando a intimidade é menor.
Um exemplo óbvio de toda a irreverência e alegria deste povo sofrido, mas feliz e batalhador, entre outros lugares-comuns que não me ocorrem agora.
Claro, você passa a vida ciente de que sua hora vai chegar. Entra nos 20 e já pensa "nossa, imagina quando..."
21... 22... E o relógio correndo.
Completa 23 e já sabe: um ano de sossego; depois, inescapável.
Daí você vai morar nos Estados Unidos.
E é "happy birthday" pra cá, "happy birthday" pra lá, até que alguém pergunta "so, what's the lucky number?" e você, amuado, "24" (numeral em inglês, claro).
E a pessoa: "ah, legal!"
E você: "ãn???"
"Legal???"
É, amigo(a)... É com certa timidez no digitar que confesso-me a você: é muito chato fazer 24 anos nos EUA.
quarta-feira, junho 06, 2007
O Q da questão
Escrever em português é muito difícil. Qualquer analfabeto sabe disso.
Com esse empecilho em mente é que desenvolvi uma teoria que revolucionaria a escrita canarinha (sim, porque os gajos e os africanos que se virem nas terras deles).
O mote do plano é descartar a letra Q do nosso abecedário.
– Que!?!?!?
Você se assombraria.
– É isso mesmo.
Asseguro eu.
Explano:
1) Com a exclusão do Q, esse som meio cuspido que ele impetra seria representado única e exclusivamente pelo C.
Vejamos um exemplo:
Aquela senhora inquieta acorda acabada.
Percebe o mesmo som sendo representado ora pelo Q (aquela, inquieta), ora pelo C (acorda, acabada)?
Essa incoerência seria eliminada e a frase viraria:
Acela senhora incieta acorda acabada.
Pode parecer estranho, mas testes nesse sentido já vêm sendo feitos há anos pela Academia Brasileira de Letras em parceria com a Interpol. Ou por que você acha que o numeral 14 pode ser escrito de duas formas?
2) Com o novo som do C, ele seria obrigado a passar o bastão do som assoprado, que às vezes pede, para o S.
Assim, a frase:
Acima do cais está um estranho percevejo.
Tornaria-se:
Asima do cais está um estranho persevejo.
Veja, novamente, que tentamos dar a cada letra um som específico, eliminando os inúmeros casos de crise de identidade pelos quais têm passado as nossas queridas consoantes.
Se você é um(a) bom(boa) observador(a), deve ter notado que a grafia da segunda frase está esquisita. Deve ter estranhado a falta dos pombinhos SS. O que nos leva para o próximo item...
3) O S então, agora com total domínio sobre o sonzinho de cobra sibilando, poderia desvencilhar-se do seu siamês, e viver solteiro daqui para frente.
A bela voz de Djavan cantaria:
Asim que o dia amanheseu...
4) Por conseguinte, o C teria que pôr o rabo entre as pernas e largar de vez o som do S. Seria o fim da cedilha.
Ainda com o cantor e compositor maceioense:
Pai e mãe, ouro de mina
Corasão, dese...
Ops! Essa frase já pede a próxima alínea.
5) O S não pode enrolar, não! Agora que ele já tem um som para ele, vai ter que largar mão de sair zumbindo por aí. Esse som tem talhada a marca do Zorro nele. Inapagável:
...dezejo e sina
Essas mudanças valeriam para as consoantes em questão sempre, indistintas as suas posições na palavra:
Você traz as cebolas e põe atrás das mesas.
Tranformaria-se em:
Vosê trás as sebolas e põe atrás das mezas.
Simples, não?
De tal modo, eliminar-mos-ia toda aquela dor de cabeça: “Acessório é com cedilha? E assessoria?”, dentre outras, que bem conhecemos.
Exterminadas seriam também algumas aberrações, como as diversas formas de escrever “sesão” (no novo dialeto, claro): seção, sessão, cessão.
Outras letras sentiriam o impacto dessa importante modificação.
Mas iso é asunto para a prósima...
;)
Tchau!
Com esse empecilho em mente é que desenvolvi uma teoria que revolucionaria a escrita canarinha (sim, porque os gajos e os africanos que se virem nas terras deles).
O mote do plano é descartar a letra Q do nosso abecedário.
– Que!?!?!?
Você se assombraria.
– É isso mesmo.
Asseguro eu.
Explano:
1) Com a exclusão do Q, esse som meio cuspido que ele impetra seria representado única e exclusivamente pelo C.
Vejamos um exemplo:
Aquela senhora inquieta acorda acabada.
Percebe o mesmo som sendo representado ora pelo Q (aquela, inquieta), ora pelo C (acorda, acabada)?
Essa incoerência seria eliminada e a frase viraria:
Acela senhora incieta acorda acabada.
Pode parecer estranho, mas testes nesse sentido já vêm sendo feitos há anos pela Academia Brasileira de Letras em parceria com a Interpol. Ou por que você acha que o numeral 14 pode ser escrito de duas formas?
2) Com o novo som do C, ele seria obrigado a passar o bastão do som assoprado, que às vezes pede, para o S.
Assim, a frase:
Acima do cais está um estranho percevejo.
Tornaria-se:
Asima do cais está um estranho persevejo.
Veja, novamente, que tentamos dar a cada letra um som específico, eliminando os inúmeros casos de crise de identidade pelos quais têm passado as nossas queridas consoantes.
Se você é um(a) bom(boa) observador(a), deve ter notado que a grafia da segunda frase está esquisita. Deve ter estranhado a falta dos pombinhos SS. O que nos leva para o próximo item...
3) O S então, agora com total domínio sobre o sonzinho de cobra sibilando, poderia desvencilhar-se do seu siamês, e viver solteiro daqui para frente.
A bela voz de Djavan cantaria:
Asim que o dia amanheseu...
4) Por conseguinte, o C teria que pôr o rabo entre as pernas e largar de vez o som do S. Seria o fim da cedilha.
Ainda com o cantor e compositor maceioense:
Pai e mãe, ouro de mina
Corasão, dese...
Ops! Essa frase já pede a próxima alínea.
5) O S não pode enrolar, não! Agora que ele já tem um som para ele, vai ter que largar mão de sair zumbindo por aí. Esse som tem talhada a marca do Zorro nele. Inapagável:
...dezejo e sina
Essas mudanças valeriam para as consoantes em questão sempre, indistintas as suas posições na palavra:
Você traz as cebolas e põe atrás das mesas.
Tranformaria-se em:
Vosê trás as sebolas e põe atrás das mezas.
Simples, não?
De tal modo, eliminar-mos-ia toda aquela dor de cabeça: “Acessório é com cedilha? E assessoria?”, dentre outras, que bem conhecemos.
Exterminadas seriam também algumas aberrações, como as diversas formas de escrever “sesão” (no novo dialeto, claro): seção, sessão, cessão.
Outras letras sentiriam o impacto dessa importante modificação.
Mas iso é asunto para a prósima...
;)
Tchau!
terça-feira, maio 29, 2007
As parentas se enganam
Hoje na cafeteria havia uma mulher com seu filho pequeno, cuja idade não sei precisar, mas é daquelas crianças que aindam não falam palavras inteiras e mal-caminham como se estivessem com as pernas engessadas. Sei lá, um ano e alguns meses, arriscaria.
O menino certa hora avistou-me e passou a olhar-me longamente, pelos próximos 2 minutos, acredito.
E eu retribuí o olhar durante todo o tempo, admirando-o de volta.
Daqueles olhares que prendem, sabe?
Um olhar gostoso e penetrante, que me fez, a certa altura, parar de me perguntar "o que será que ele está pensando?" e passar a, simplesmente, curtir o momento.
Passei também da fase de "quero devolver esse sentimento bom a ele, fazê-lo sentir o mesmo."
Nenhum de nós fitava o outro. Nenhum de nós observava o outro. Nós estabelecemos algo como um canal de comunicação, num espaço alheio ao resto do mundo, como se não precisássemos de palavras para nos entender. Não era inglês, não era português, não eram sílabas, sons, sinais. A ligação dava-se em outro plano, senti.
E abro um breve parênteses: quem me conhece sabe que eu não sou afeito às explicações sobrenaturais, esotéricas, espirituais ou embasadas em qualquer outro tipo de subjetividade. Mas toda exceção tem a sua regra, e eu não fujo a nenhuma das duas.
Fecha breve parênteses.
Enquanto nos comunicávamos, o bebê e eu, a mãe tenta chamar a atenção do filho e lhe pergunta: "Kevin, o que você está olhando? Hein, filho? Tá olhando o cabelão dele, é? É a barba?"
Eu não sei muito bem porque, mas eu tive, nessa hora, dó daquela mãe. "Coitada...", cheguei a pensar.
Não tanto por ela, e talvez nem mesmo pela situação em si, mas porque ali, de uma certa maneira, ela representou um desconhecimento, um descaso, uma ignorância (ignorante = que ignora, que não tem ilustração) que nós temos com muitas pessoas, em muitas situações na vida. Que ficou patente para mim, naquele momento, pois tratava-se de uma mulher e de seu próprio filho.
Uma criança naquela idade não faz esse tipo de distinção física. Ele não sabe o que quer dizer ter um cabelo comprido. Não vê a minha barba como sinal de qualquer coisa. Não percebe que sou latino pelos meus traços. Não me analisa pelas roupas, ou pela cor da pele.
Será que a mãe não sabe disso?
Será que ela chega a esse nível de desentendimento da cabeça do rebento?
Será que ela acha mesmo que alguma coisa em mim estava, objetivamente, chamando a atenção do filho?
Algo que não fosse o olhar?
Olhar onde, aliás, àquela altura, enquanto a mãe blablablava ao fundo, eu conversava com o Kevin.
Dizia: "tisc, tisc, tisc..."
E ele lamentava: "coitada..."
O menino certa hora avistou-me e passou a olhar-me longamente, pelos próximos 2 minutos, acredito.
E eu retribuí o olhar durante todo o tempo, admirando-o de volta.
Daqueles olhares que prendem, sabe?
Um olhar gostoso e penetrante, que me fez, a certa altura, parar de me perguntar "o que será que ele está pensando?" e passar a, simplesmente, curtir o momento.
Passei também da fase de "quero devolver esse sentimento bom a ele, fazê-lo sentir o mesmo."
Nenhum de nós fitava o outro. Nenhum de nós observava o outro. Nós estabelecemos algo como um canal de comunicação, num espaço alheio ao resto do mundo, como se não precisássemos de palavras para nos entender. Não era inglês, não era português, não eram sílabas, sons, sinais. A ligação dava-se em outro plano, senti.
E abro um breve parênteses: quem me conhece sabe que eu não sou afeito às explicações sobrenaturais, esotéricas, espirituais ou embasadas em qualquer outro tipo de subjetividade. Mas toda exceção tem a sua regra, e eu não fujo a nenhuma das duas.
Fecha breve parênteses.
Enquanto nos comunicávamos, o bebê e eu, a mãe tenta chamar a atenção do filho e lhe pergunta: "Kevin, o que você está olhando? Hein, filho? Tá olhando o cabelão dele, é? É a barba?"
Eu não sei muito bem porque, mas eu tive, nessa hora, dó daquela mãe. "Coitada...", cheguei a pensar.
Não tanto por ela, e talvez nem mesmo pela situação em si, mas porque ali, de uma certa maneira, ela representou um desconhecimento, um descaso, uma ignorância (ignorante = que ignora, que não tem ilustração) que nós temos com muitas pessoas, em muitas situações na vida. Que ficou patente para mim, naquele momento, pois tratava-se de uma mulher e de seu próprio filho.
Uma criança naquela idade não faz esse tipo de distinção física. Ele não sabe o que quer dizer ter um cabelo comprido. Não vê a minha barba como sinal de qualquer coisa. Não percebe que sou latino pelos meus traços. Não me analisa pelas roupas, ou pela cor da pele.
Será que a mãe não sabe disso?
Será que ela chega a esse nível de desentendimento da cabeça do rebento?
Será que ela acha mesmo que alguma coisa em mim estava, objetivamente, chamando a atenção do filho?
Algo que não fosse o olhar?
Olhar onde, aliás, àquela altura, enquanto a mãe blablablava ao fundo, eu conversava com o Kevin.
Dizia: "tisc, tisc, tisc..."
E ele lamentava: "coitada..."
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